
★ Campeão 1980 ★
A Lenda Imortal: Sebastião Procópio e a Alma de Barretos
O ar de Barretos, naquele agosto de 1980, estava carregado de uma eletricidade quase palpável. Milhares de olhares estavam fixos na arena, esperando o duelo que definiria o campeão. Quando Sebastião Procópio Ribeiro montou no gigante "Canarinho", um touro de mais de mil quilos conhecido por sua fúria, o tempo pareceu parar. A porteira se abriu e o que se seguiu foi uma dança caótica e perfeita. Oito segundos de pura sinfonia entre homem e animal, uma demonstração de vontade de ferro contra força bruta. Cada coice era absorvido, cada tentativa de derrubada era rebatida com uma aderência sobrenatural. Quando a buzina soou, libertando o grito preso na garganta da multidão, Sebastião saltou para a areia, jogando o chapéu para o alto. Ele não era apenas o campeão de Barretos; naquele momento, ele se tornava uma lenda.

A jornada até aquele pódio, no entanto, foi pavimentada com a poeira de inúmeros bretes e as cicatrizes de uma vida de dedicação. Vindo da roça, com um sonho que parecia distante, Sebastião superou a escassez, a desconfiança e as incontáveis lesões de ossos quebrados e músculos rompidos que se tornaram companheiros constantes. Cada queda era um convite à desistência, mas foi no chão da arena que sua alma de campeão foi forjada. Anos mais tarde, essa mesma alma se mostraria ainda maior. Apesar de já ter o corpo marcado pelo tempo, ele aceitou duas vezes o “Desafio do Bem”. Em 2008, quando tinha 50 anos (montando o touro Praieiro, o mais temido da época) e em 2018, quando tinha 60 anos (montando o touro Whatsapp do tropeiro Paulo Emílio). Desta vez, não era por um troféu, mas por uma causa nobre: arrecadar fundos para o Hospital de Barretos. Naquele ato, ele provou que sua bravura ia muito além da competição, transformando-se em um símbolo de altruísmo e amor ao próximo.
O que sustentou Sebastião Procópio em toda a sua trajetória foram três pilares inabaláveis. Sua coragem não era a ausência de medo, mas a capacidade de encará-lo de frente, montando em animais que poderiam tirar sua vida em um piscar de olhos. Sua fé profunda era a âncora que o mantinha firme, uma crença inabalável em um propósito maior que o impulsionava a continuar. E sua determinação férrea era a chama que nunca se apagava, a teimosia que o fazia treinar sem descanso e a resiliência que o trazia de volta à arena, mais forte após cada desafio.
Neto e filho de fazendeiro, Sebastião Procópio, mais conhecido como “Tião Procópio”, parece ter nascido para ser peão. Nasceu em Paulo de Faria (SP), município que fica cerca de cem quilômetros de Barretos, a arena mais cobiçada por peões do país inteiro, e local onde Tião protagonizou espetáculos tentando ficar em cima de bois bravos por oito segundos.
Hoje, Sebastião Procópio é mais do que um campeão; ele é a própria alma do rodeio brasileiro e um dos maiores representantes da rica cultura sertaneja. Sua história encapsula a resiliência do homem do campo, a paixão pela terra e o respeito aos animais. Ele personifica o legado de bravura, honra e simplicidade que define o verdadeiro espírito do boiadeiro, sendo um testemunho vivo de que a tradição do rodeio é, acima de tudo, um celeiro de valores humanos profundos. Tião Procópio foi uma inspiração real para a novela “América”, da TV Globo, em 2005, especialmente para o personagem Tião, interpretado por Murilo Benício. Tião Procópio, um famoso peão de rodeio, apresentou suas experiências para a autora da novela, Glória Perez, e detalhes de sua vida foram incorporados à trama.
Que a jornada de Sebastião Procópio Ribeiro sirva como um farol de inspiração. Que ela nos lembre que, não importa quão indomável pareça o “touro” que a vida nos apresenta ou quantas vezes somos derrubados. O verdadeiro campeão é aquele que se recusa a ficar no chão. Que cada um de nós possa perseguir seus sonhos com a mesma garra, a mesma fé e a mesma paixão que transformaram um peão sonhador na lenda imortal de Barretos.
Títulos em Barretos:
- Campeão da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos (1980): O título mais importante e icônico de sua carreira, vencido no auge de sua forma.
- Homenagens em Diversos Rodeios: Frequentemente homenageado como “lenda viva” em grandes eventos, incluindo edições posteriores da Festa do Peão de Barretos.
- “Desafio do Bem” (Barretos): Em 2008, quando tinha 50 anos (montando o touro Praieiro, o mais temido da época) e em 2018, quando tinha 60 anos (montando o touro Whatsapp do tropeiro Paulo Emílio), voltou às arenas para arrecadar fundos para o Hospital de Amor (antigo Hospital de Câncer de Barretos). Este ato não foi uma competição, mas um reconhecimento de seu status lendário e um prêmio de caráter humanitário e moral.